Retomada da economia brasileira será gradual e enfrentará desafios, diz economista da FGV

26 de novembro de 2019 - 14:15

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer 2% em 2020, quase 1 ponto percentual a mais que a estimativa para este ano. Apesar da melhora no cenário econômico, a economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sílvia Maria Matos, acredita que “um crescimento mais expressivo só será possível com o aumento da produtividade e dos investimentos no País”. Para alcançar esse resultado, os desafios são diversos e incluem desde reformas estruturais à adoção de políticas de estado, não de governo. A avaliação foi feita durante o XIII Fórum Ceará em Debate Ipece/Seplag, realizado na manhã dessa segunda-feira (25), no Auditório da Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE). O evento é uma promoção conjunta do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), da Seplag e do Observatório do Federalismo Brasileiro.

Para um auditório lotado de economistas, gestores, professores e secretários de estado, a pesquisadora do Ibre/FGV observou que, após um período de maior pessimismo quanto ao desempenho futuro da economia, o quadro atual mostra uma melhora gradual da confiança. Mas, advertiu: “se por um lado há sinais de retomada, por outro fica claro que ela é muito heterogênea e desigual”. Ela explicou que os desafios para a aceleração do crescimento permanecem e são difíceis de serem resolvidos em um ambiente político conturbado e acrescenta que o ajuste fiscal ainda não está consolidado e que existe uma baixa produtividade da economia e ineficiências microeconômicas, Durante a palestra, Silvia Matos fez uma análise tanto da economia mundial bem como da brasileira.

Ela afirmou, categoricamente, que, assim como em períodos de consolidação fiscal verificados no passado, o ajuste fiscal continua penalizando os investimentos públicos. Para mudar essa trajetória, segundo Sílvia Matos, é importante que se avance na agenda de reformas estruturais de redução de todas as despesas públicas. “A contenção do gasto primário, a redução do crédito público e dos subsídios creditícios (aprovação da Taxa de Longo Prazo -TLP) permitiram a queda dos juros reais da economia. A manutenção deste novo equilíbrio depende da redução dos gastos públicos como proporção do PIB”. A Pesquisadora do Ibre/FGV ressaltou que o equilíbrio macro é uma condição necessária, mas não suficiente para crescimento econômico, e que a agenda de reformas micro para o aumento de produtividade é fundamental para elevar o crescimento potencial. No entanto, “ainda há muito a ser feito”.

O professor Flávio Ataliba, secretário Executivo de Planejamento e Orçamento da Seplag, ao abrir os trabalhos, juntamente, com o diretor geral do Ipece, João Mário Santos de França, ressaltou a importância do Encontro – agora uma realização do Observatório e do Fórum Ceará em Debate – que tem promovido a análise de temas atuais, tanto local como nacional.

O também professor João Mário, ao abordar o tema “Mercado de Trabalho, Desigualdade e Pobreza Monetária: Evidências para o Ceará e Brasil 2012/2018”, ressaltou, dentre outros números, que a taxa de desocupação (pessoas de 14 anos ou mais) no Ceará, de 11,5% em 2018, é menor do que a do Nordeste (14,5%) e do Brasil (12%). Em 2017, a taxa cearense era de 12,3%, do Nordeste de 14,6%, e do Brasil de 12,5%. Já o rendimento domiciliar per capita do Ceará passou de R$ 830,00, em 2017, para R$ 848,00, em 2018, menor que a do Brasil (RS 1.337,00), mas superior a do Nordeste, de R$ 815,00.

“Raízes das Desigualdades Regionais no Brasil”, foi o tema da palestra do presidente da Datamétrica Consultoria, Pesquisa e Telemarketing, Alexandre Rands Barros, que durante o evento lançou livro com o mesmo título. Após mostrar a importância de cada região brasileira e evidenciar os números do PIB, população e PIB per capita em cada uma delas, Alexandre Barros destacou que existem três hipóteses principais para explicar as desigualdades regionais brasileiras: visão estruturalista; visão educacional e visão institucionalista. A primeira – frisou – conclui que políticas têm que elevar estoque de capital físico no Nordeste, principalmente na indústria, para reduzir as disparidades regionais (criação de mecanismos de acumulação de capital específicos para a região e/ou incentivos para a transferência de outras regiões).

A segunda visão, ou seja, a educacional – defendida, inclusive, por ele -, afirma que somente investimento maciço em educação pode eliminar as desigualdades regionais, uma vez que incentivos ao investimento local em capital físico não adianta. Já a terceira, de acordo com Alexandre Barros, conclui que somente modernização institucional, com mudança do sistema de representação política poderia reduzir as desigualdades regionais. Para ele, a mais importante política para eliminação das desigualdades regionais no Brasil é a equalização do nível de formação educacional da população, que tem ocorrido, mas de forma lenta. “Os investimentos em educação no Brasil, contudo, ainda são muito desiguais entre estados e municípios dentro do mesmo estado. Essa disparidade de gastos tenderá a reproduzir as desigualdades regionais no futuro” – concluiu.