Guerra reforça debate sobre transição energética no Brasil e no Ceará

14 de março de 2022 - 16:57 # # # #

Ascom Seplag

“Os efeitos da invasão da Rússia na Ucrânia sobre o mercado internacional são maiores, mas existem efeitos indiretos no Brasil pela taxa de juros e pela taxa de câmbio. Já estamos vendo o preço da gasolina disparar no Brasil. E vai disparar ainda mais”. A avaliação é do professor da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral, Rodrigo Zeidan, que participou, na última sexta-feira (11), do webinar “O conflito Rússia x Ucrânia e seus desdobramentos para os países em desenvolvimento”, realizado pelo Observatório do Federalismo Brasileiro (OFB), vinculado à Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE).

Ao lado do professor da George Washington University e membro sênior do Policy Center For The News South, Otaviano Canuto, e do secretário executivo do Planejamento e Orçamento da Seplag-CE, Flávio Ataliba, Zeidan abordou os principais impactos da guerra que podem ser sentidos pelo Brasil e pelo Ceará.

Conforme Zeidan, a guerra reforça a necessidade de olhar para a transição da matriz energética do Brasil e do Ceará, focando em energias renováveis e reduzindo a dependência dos países fornecedores de petróleo e gás. “No Brasil, a gente perdeu um pouco o bonde da história no seguinte sentido: energias renováveis. O que estamos vendo é que o mundo vai acelerar a transição energética. Nós estamos em um estado – o Ceará – com potencial de geração de energia eólica e solar. Um potencial inclusive para liderar o processo de transição para carros, por exemplo”, disse o palestrante, dando como exemplo o processo de transição em Shanghai (China), onde vive, cidade na qual os prédios e ruas já possuem infraestrutura para abastecimento de carros elétricos.

O efeito da guerra sobre o preço das commodities, incluindo petróleo e gás, também foi reforçado pelo palestrante Otaviano Canuto, que lembrou o impacto que esses aumentos têm para as cadeias de suprimento de todo o mundo. De acordo com ele, as condições financeiras pioraram nas últimas três semanas, desde o início do conflito, e atingiram outras commodities, como o trigo, uma vez que Rússia e Ucrânia eram responsáveis por um terço da produção mundial de trigo. O abastecimento de minerais e a oferta de insumos para a indústria também devem ter efeitos negativos sobre a economia mundial.

“Estudos mostram como existe uma assimetria entre os preços energéticos e os preços das demais commodities no sentido de que aquilo que acontece nos preços de energia acaba contaminando o restante. Então, a subida de preços de energia acaba contaminando o preço de alimentos, minerais e metais. É bem possível que esse choque se desdobre nisso. A Rússia e a Ucrânia têm um papel importante na disponibilidade mundial de alguns minerais, por exemplo, o gás neon, fundamental na produção de semicondutores. Com os problemas de acesso a gás neon, esqueça a normalização de semicondutores por algum tempo, por conta da falta de insumos. Nós todos vivemos os problemas com cadeias de suprimento, rupturas nas cadeias de suprimento globais, inicialmente pelos confinamentos impostos pela pandemia, depois, pelo descompasso entre demandas por bens e a disponibilidade. A guerra vai piorar isso. Evidentemente que o acesso ao que vem da Rússia, ao que vem da região, está problematizado”, afirmou.

Inflação

Diante do atual cenário mundial político e econômico, Otaviano Canuto lembrou que os preços dos produtos, de modo geral, poderão ser influenciados no Brasil, pressionando o orçamento das famílias, que já estão sentindo o aumento no preço dos combustíveis. Com o reajuste anunciado pela Petrobras na última semana (aumento 24,9% no diesel, de 18,8% no preço da gasolina e de 16,1% no gás de cozinha), o litro da gasolina já ultrapassou R$ 11 em alguns estados brasileiros. Vale lembrar que o aumento no preço dos combustíveis tem efeito direto sobre a inflação, encarecendo os preços dos produtos em geral.

Ao final do webinar, o secretário Flávio Ataliba ressaltou a importância do Observatório do Federalismo Brasileiro na análise das principais questões econômicas da atualidade. “A partir de debates importantes como esse, poderemos reorientar nossas políticas públicas locais, além de propor soluções para problemas emergenciais da sociedade brasileira”, ressaltou.

Saiba mais

O webinar “O conflito Rússia x Ucrânia e seus desdobramentos para os países em desenvolvimento” foi transmitido pelo canal da Seplag no YouTube e pela TV Assembleia. Clique aqui e assista agora.