Potencial energético do Ceará é combustível para crescimento sustentável do Estado

27 de abril de 2022 - 11:21 # # #

Dháfine Mazza - Ascom Seplag

O potencial energético do Ceará é o combustível que o Estado precisa para alcançar, de forma mais acelerada, o crescimento socioeconômico sustentável. A conclusão é de especialistas no assunto que participaram, nesta terça-feira (26), do Fórum Ceará em Debate Ipece/Seplag, evento online que integrou a programação comemorativa pelos 19 anos de existência do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), vinculado à Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag). Na ocasião, o secretário executivo do Planejamento e Orçamento da Seplag, Flávio Ataliba, mediou o painel “O Setor de Energia no Ceará”, que teve a participação do professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Cientista Chefe em Energia no Programa “Ciência e Inovação em Políticas Públicas” da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Fernando Antunes, e do doutor em Economia e analista de Políticas Públicas do Ipece, Witalo Paiva.

Conforme Flávio Ataliba, o Ceará vive um momento bastante promissor para o setor energético, com a criação e o avanço do Hub de Hidrogênio Verde e o contexto internacional favorável à aceleração da transição da matriz energética em todo o mundo, abrindo grandes possibilidades de investimentos e novos negócios para o Estado. “O Ceará tem um potencial muito grande em energias renováveis. A transição energética vai ocorrer de forma muito mais veloz. Muitos fatores podem influenciar essa transição, a exemplo do conflito que está ocorrendo entre a Rússia e a Ucrânia. Assim, uma vez possuindo vantagens comparativas naturais nesse processo de transição energética, o Ceará deve transformá-las em vantagens competitivas a fim de dar viabilidade aos negócios no setor. Para tanto, é muito importante a participação do Estado, por meio da criação de sistemas de incentivos que permitam que esses negócios avancem com mais velocidade no Ceará”, destacou o secretário executivo da Seplag.

Em fevereiro do ano passado, o Governo do Ceará lançou o Hub de Hidrogênio Verde, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Universidade Federal do Ceará (UFC) e com o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp). Na ocasião, conforme lembra o professor e Cientista Chefe em Energia, Fernando Antunes, foi assinado, com a empresa australiana Energyx Energy, o primeiro memorando de entendimento para a construção de uma usina de combustível no Cipp. “Isso colocou o Brasil no mapa do Hidrogênio Verde. De lá para cá, o Governo do Ceará assinou muitos outros memorandos de entendimento com empresas interessadas em investir no Hub de Hidrogênio Verde. Hoje, são mais de US$ 20 bilhões em memorandos de entendimento já assinados”, disse Antunes.

Oportunidades x Desafios

Conforme Fernando Antunes, o Ceará possui muitos atrativos para avançar no investimento em energias renováveis, como um elevado potencial de energia eólica onshore (94 gigawatt – GW) e offshore (117 GW); elevado potencial de energia solar (643 GW), com prioridade em extensas áreas passíveis à desertificação (194 GW); condições apropriadas do Porto do Pecém para sediar um hub de Hidrogênio Verde; Estado com condições fiscais e administrativas confiáveis para o estabelecimento de parcerias com instituições públicas ou privadas; existência de Universidades e Institutos tecnológicos de reconhecida credibilidade; qualidade da mão de obra; e rede de Ensino Médio e Superior com capacidade de atender à demanda da nova cadeia produtiva.

Por outro lado, existem desafios que precisam ser superados para que o Estado aproveite todo o potencial energético que possui para o Hidrogênio Verde, como a redução dos custos de produção, o desenvolvimento da infraestrutura necessária e a queda das barreiras regulatórias.

“O hidrogênio pode ajudar a superar muitos desafios difíceis de energia. Pode proporcionar uma maior integração das energias renováveis, inclusive melhorando as opções de armazenamento e aproveitando todo o seu potencial. Descarbonização de setores difíceis de reduzir, como aço, produtos químicos, caminhões, navios e aviões. Além do aumento da segurança energética, diversificando a mistura de combustível e fornecendo flexibilidade para equilibrar as redes”, reforçou.

Impactos já são percebidos

Ao falar sobre a evolução da geração de energia no Ceará e os impactos para a economia do Estado, o analista de Políticas Públicas do Ipece, Witalo Paiva, ressaltou que a geração de energia deve ser vista como uma atividade econômica que gera renda, cria empregos e ajuda a desenvolver a economia do Ceará. “Hoje, há um maior interesse mundial por energias limpas e renováveis, e o Governo do Ceará possui um posicionamento estratégico com o Hidrogênio Verde e as novas possibilidades que ele traz. O Hidrogênio Verde é uma forma de produzir energia na qual o Ceará busca protagonismo. Isso nos traz perspectivas de desenvolvimento econômico. Já podemos observar muitos avanços da geração de energia elétrica no Ceará, que é destaque na produção de energia de fontes eólica e solar. Mas essa produção vem ganhando importância. E o Estado tem um relevante potencial de crescimento na geração de energia renovável que pode trazer ainda mais avanços econômicos”, afirmou.

Paiva reforçou que o crescimento da capacidade de geração de energia cearense se destaca no longo prazo, com a participação cearense em relação ao Nordeste e ao Brasil saltando em 2014 e mantendo relativa estabilidade desde então. De acordo com ele, o Estado está apresentando uma alteração estrutural na composição da produção de energia, com maior participação da fonte eólica em detrimento da térmica. Esse movimento acompanha a mudança na capacidade de geração.

“Uma nova realidade está se estabelecendo e altera as perspectivas de modo relevante. Neste contexto e diante das mudanças em curso na produção de energia no Ceará, na direção de fontes renováveis, as oportunidades são ampliadas consideravelmente. Os efeitos sobre a economia já são percebidos e podem ser intensificados no médio prazo, potencializando mudanças mais intensas na indústria e na economia cearense. Para tornar efetivas tais possibilidades, o Estado precisa favorecer a efetivação desse potencial de negócio, materializando os investimentos já sinalizados. Precisa, ainda, para além da geração em si, favorecer o desenvolvimento da cadeia de valor para potencializar os transbordamentos dos ganhos para toda a economia estadual”, concluiu.

19 anos do Ipece

O evento em comemoração aos 19 anos do Ipece foi conduzido pela assessora de Desenvolvimento Institucional do Instituto, Lily Frota, e aberto pelo diretor geral do Ipece, João Mário Santos de França, que ressaltou o importante papel do órgão para o desenvolvimento socioeconômico do Ceará.

“Para mim, é motivo de muita honra presidir um instituto com tanta credibilidade, reputação e serviços prestados ao Governo do Estado do Ceará e, principalmente, à sociedade cearense. Parabenizo todo o corpo funcional do Ipece. Ao longo dos seus 19 anos de existência, o Ipece tem dado contribuições relevantes para o Ceará, fruto do engajamento dos que fizeram e fazem o Instituto. Seu trabalho é reconhecido no Brasil e no exterior, servindo de modelo para outras gestões”, destacou João Mário Santos de França.

O secretário executivo da Seplag, Flávio Ataliba, que esteve à frente do Ipece por oito anos, também participou da abertura do evento e lembrou que a atuação do Instituto é fundamental para a avaliação de programas e o estabelecimento de políticas públicas no Ceará. “O Ipece tem uma importância fantástica dentro do Governo do Ceará. Tive a oportunidade de estar à frente do Instituto durante oito anos e, nesse período, eu vi o quão importante é para um Estado, um governo, você ter políticas bem desenhadas e informações. Isso é essencial para o sucesso das suas ações. Espero que o Instituto continue se fortalecendo, aumentando a sua capacidade de análise das políticas. Posso citar duas grandes intervenções do Instituto que mudaram e continuam mudando todo o ambiente social em nosso Estado. Primeiro, lembro da elaboração da fórmula do ICMS, no final da década de 2000. Tivemos o aperfeiçoamento dessa fórmula no início da década de 2010. Isso foi muito importante para o avanço da educação. O segundo momento, mais recente, foi a contribuição para o desenho do Programa Mais Infância Ceará. Isso sem diminuir, evidentemente, as outras grandes ações que tivemos, mas essas duas estão tendo um impacto social muito grande”, disse.