‘Não há desenvolvimento onde há mulher sofrendo’, diz Raquel Andrade

30 de agosto de 2023 - 14:20 # #

TEXTO: Dháfine Mazza - Ascom Seplag | FOTOS: Dennis Moraes - Ascom Seplag

“Não há desenvolvimento humano, socioeconômico ou perspectiva de justiça e equidade onde há mulher sofrendo violência”. O alerta foi feito pela secretária executiva de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher da Secretaria das Mulheres do Ceará, Raquel Andrade, durante a palestra “Enfrentamento à violência contra a mulher”, realizada na tarde desta terça-feira (29) na Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE). O evento foi organizado pela Coordenadoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (CGDEP) e marcou o engajamento da Seplag na campanha Agosto Lilás, voltada para a conscientização e o combate à violência contra a mulher.

Ao realizar a abertura da palestra, a secretária do Planejamento e Gestão, Sandra Machado, falou sobre a necessidade de abordar o tema e de combater a crença de que a violência entre os casais, por exemplo, é algo que não deve ter intervenção externa. “Sabemos da necessidade desse olhar para a questão da violência contra a mulher. O Governo do Ceará está atento a isso, pois essa questão não atinge apenas as mulheres, mas toda a sociedade. Devemos ficar atentos. A violência está levando à morte de muitas mulheres. Isso é muito grave. Muitos de nós conhecemos ou vivenciamos casos de violência que deveriam ser denunciados. Agradeço a disponibilidade da secretária executiva Raquel Andrade para ministrar a palestra para os servidores e colaboradores da Seplag e nos ajudar no processo de conscientização e de fortalecimento do combate à violência contra a mulher”, disse.

Durante a palestra, a secretária executiva de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher deu exemplos cotidianos para mostrar que o comportamento das pessoas está diretamente ligado ao que elas acreditam e que o machismo estrutural da sociedade também influencia o comportamento das mulheres. “Nós também reproduzimos práticas que diminuem outras mulheres. O que aprendemos quando criança e o que vemos nos meios de comunicação interferem no nosso comportamento e nas nossas relações. Mas ninguém nasce machista. Então, essa postura pode ser desconstruída da mesma forma como foi construída”, disse.

A palestrante destacou que é importante reconhecer esse comportamento para ressignificar as relações, evitar e combater todos os tipos de violência contra a mulher. Ela lembrou que a equidade de gênero é algo recente na legislação brasileira e que esta é uma luta contínua que não pertence apenas às mulheres, mas à sociedade como um todo. Essa vigilância também deve ser feita no ambiente de trabalho, onde, assim como em outros espaços, a empatia e a solidariedade fazem a diferença na vida das mulheres.

“A violência institucional de gênero impede o melhor aproveitamento dos talentos que hoje poderiam estar servindo à administração pública. Uma mulher que não dispõe de políticas de apoio à maternidade onde trabalha não tem condições de entregar o seu melhor. Isso tem impacto no clima organizacional e na produtividade. Nós somos punidas, de certa forma, por sermos mulheres. Isso é estrutural. Está em todas as instituições e nós precisamos desconstruir entre nós, servidores e servidoras. Muitas mulheres talentosas são limitadas, barradas e até excluídas dos processos de ascensão por conta de uma prática disseminada de violência contra a mulher. No caso das mulheres que sofrem violência em casa, elas mostram mudança de comportamento no fim do expediente, quando precisam retornar para casa. Ainda precisamos disseminar programas de acolhimento das servidoras”, afirmou Raquel Andrade.

Papel da Seplag

A secretária executiva ressaltou a importância da Seplag para a concretização de políticas públicas voltadas ao combate à violência contra a mulher. Ela também lembrou que a Secretaria está à frente da construção do Plano Plurianual (PPA) 2024-2027 sensível à raça e ao gênero.

“Só tem saúde, educação, Casa da Mulher Brasileira, Casa da Mulher Cearense para acolher as mulheres em situação de violência porque vocês aqui na Seplag estão fazendo o trabalho. Mas quem cuida de quem serve? O orçamento do Governo do Ceará é todo sensível à raça e ao gênero. É necessário que nós, servidores públicos, internalizemos isso, saibamos a importância desse orçamento e coloquemos isso no nosso dia a dia”, afirmou.

União

Ao concluir a palestra, a secretária executiva Raquel Andrade reforçou que o combate à violência contra a mulher é um dever de todos, independentemente do gênero, mas que também é importante que as mulheres se unam e se apoiem. “Nós podemos reconfigurar os papéis de gênero. É algo possível. Podemos criar uma cultura em que a mulher pode dizer não se ela quiser. Tenho certeza que a gente consegue recuperar isso, mas encarando o problema. Hoje, eu vim provocar essa reflexão para que a gente comece a entender como podemos mudar nosso setor, cotidiano e dia a dia”, finalizou.