Economistas analisam cenário econômico pós-pandemia e condições para a retomada econômica

19 de maio de 2021 - 08:47 # # # # # #

Luiz Pedro Bezerra Neto / Ascom Seplag

Durante 2 horas e 20 minutos, o tema “O cenário econômico pós-pandemia e as condições para a retomada da economia no Brasil e no Ceará” foi debatido no Webinar realizado na manhã da última sexta-feira (14), em uma iniciativa do Observatório do Federalismo Brasileiro (OFB), ligado à Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag), em colaboração com a Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa (Funcap).

O Webinar teve como principal palestrante o professor Fernando Veloso, Ph.D em Economia pela Universidade de Chicago, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, e professor da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da FGV/RJ.

Os debatedores foram Pedro Cavalcanti Ferreira, professor em Economia da FGV do RJ, e diretor do centro de pesquisa FGV Crescimento & Desenvolvimento, e Flávio Ataliba, secretário executivo da Seplag, pós-doutor em Economia pela Universidade de Havard e coordenador geral do OFB. O moderador foi o professor Maurício Benegas, coordenador do projeto Cientista-Chefe em Economia/Funcap.

Produtividade e mercado de trabalho

Fernando Veloso iniciou projetando um cenário no qual espera, “em breve, que consigamos vacinar a população, superando esse problema mais agudo da pandemia”. Ele revelou que, no ano passado, houve uma queda maciça da força de trabalho. No segundo trimestre, cerca de 10 milhões de pessoas saíram da força de trabalho, em comparação com o final de 2019. “Depois, houve uma recuperação mas no final do ano passado ainda tinha 6 milhões abaixo do final de 2019. Um fenômeno diferente onde as pessoas não foram nem para o desemprego, elas simplesmente saíram da força de trabalho. Então, foi um fator mais de saída do que produzir emprego”.

Conforme o professor, uma coisa que a pandemia deixou claro é que os informais são invisíveis por não terem proteção social. “Vários estão no Cadastro Único. Precisamos reformular o sistema de proteção social, tanto aprimorando o Bolsa Família como provendo alguma forma de seguro para os trabalhadores informais”, defendeu Fernando Veloso.
Ele revelou que há uma proposta desse programa de responsabilidade social que tenta aprimorar o Bolsa Família e oferecer algum seguro para os informais em caso de perda de renda, doença na família ou pandemia, mas que, segundo ele, ainda não avançou no Senado.

Papel da educação

O professor Pedro Cavalcanti destacou o papel da educação para o desenvolvimento do País. “Essa foi uma agenda que no passado não existiu. Uma agenda que entrou muito tarde no campo do desenvolvimento”, criticou antes de afirmar que, “sem educação, dificilmente vai se avançar na formalização e na produtividade”.

Pedro Cavalcanti defendeu uma agenda de reforma urgente. “O ambiente de trabalho é muito ruim. Então, você não consegue criar bons empregos. A reforma administrativa não andou, mas principalmente a tributária que discutimos há três anos. Essa agenda seria urgente para criação desse ambiente de negócios melhores e para permitir que as firmas operem em ambiente menos distorcido, onde você tenha mais demanda para essa mão de obra mais educada”.

Sobre previsões de curto prazo, no Brasil vai depender da vacinação e da imunidade. “Ficaram muito claros erros seríssimos na gerência de saúde, mas agora, aparentemente, a gente vai acelerar. Uma vez todo mundo vacinado, vamos retornar num ritmo próximo do normal, mas não necessariamente como no passado recente”.

Desafios e vantagens

O secretário Flávio Ataliba anunciou, ao iniciar sua participação no webinar, que iria fazer uma reflexão dentro de um ponto de vista mais regional. Depois de fazer uma análise do cenário mundial, a partir da globalização, Flávio passou a mostrar os desafios e as vantagens do Ceará. “Temos uma alta formalidade no Estado, agenda comum no País. O Ceará é um estado ainda de baixa renda. Estamos crescendo, mas ainda um pouco lento. Outro ponto é sairmos de empreendimentos de baixa produtividade e imaginarmos economias de mais alta produtividade”, defendeu.

No segmento no turismo e eventos, a pandemia coloca a necessidade de novas ações, novas estratégias para garantir a participação desse segmento no Produto Interno Bruto (PIB). Ele citou outro desafio do Estado é a pobreza digital. “As pessoas mais pobres precisam estar conectadas para que tenham possibilidades de novos empregos remotos”.

Ao enumerar as vantagens apresentadas pelo Ceará, Flávio Ataliba iniciou citando os hubs, como o de hidrogênio e os logísticos como o porto, o aeroporto e o digital. Destacou a inauguração do DataCenter da Angola Cables, em Fortaleza, gerando um ambiente favorável à expansão portuária e logístico em razão da posição estratégica com os Estados Unidos, Europa e África.

O legado da infraestrutura de saúde foi outro ponto destacado, acrescentado que será potencializado com a criação do polo industrial e tecnológico de saúde, no município do Eusébio, com a Fiocruz e a Bio-Manguinhos, trazendo diversos serviços de saúde, inclusive na produção de vacinas”.

O Ceará apresenta ainda como ponto positivo a questão das energias renováveis e eólicas, “que talvez seja o vetor mais importante do desenvolvimento do Ceará”.

Uma outra agenda relevante do Ceará é a da inteligência governamental. “O Ceará não pode prescindir da participação do governo para alavancar seu desenvolvimento econômico. A indução que o setor público pode gerar é muito grande. Isso precisa ser feito de forma estratégica e inteligente e com eficiência econômica”.

A gestão fiscal foi outro ponto importante enfatizado pelo dirigente. “Em 2020 investimos quase 2,5 bilhões de reais. Isso mostra que estamos num processo de consolidação fiscal”.

O secretário citou ainda o Cinturão Digital do Ceará com 15 mil quilômetros de fibra óptica. “Praticamente todos os municípios do Ceará estão conectados por meio de provedores ou fibra óptica”.

Ao concluir, Flávio Ataliba fez um resgate histórico, quando lembrou que na década de 1990 tínhamos no Ceará um esforço legitimo de industrialização do Estado. À época o ex-governador Cid Gomes, então prefeito de Sobral, acreditou na proposta dos professores Pedro Cavalcanti e Samuel Pessoa que defendia o debate da educação, e promoveu uma revolução na educação daquele município, depois expandida para o restante do Ceará, quando Cid chegou ao Governo do Estado.