‘A telemedicina veio para revolucionar o cuidado de saúde’, prevê palestrante em webinar

31 de maio de 2021 - 10:39 # # # # # #

Luiz Pedro Bezerra Neto/Ascom Seplag

A doutora em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mônica Viegas, foi a principal palestrante do webinar realizado na última sexta-feira, dia 28, que teve como debatedores o ex-prefeito Roberto Cláudio, médico sanitarista, com PhD em Saúde Pública pela Universidade do Arizona (EUA), e Dércio Chaves, mestre em Economia pelo Caen/UFC e estudante do Master of Research Economics (University of Exeter do Reino Unido).

“O sistema de saúde brasileiro pós-covid 19” foi o tema debatido no webinar promovido pelo Observatório do Federalismo Brasileiro (OFB), ligado à Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag), com apoio da Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa (Funcap).

Ao iniciar a apresentação, Mônica Viegas comentou o funcionamento do sistema de saúde brasileiro no contexto pré-covid, registrando a baixa integração entre o público e o privado. Ela destacou o sucesso do Sistema Único de Saúde (SUS) como um efeito extremamente positivo da valorização que se teve o SUS enquanto instituição. “Na verdade, nossa resposta para a pandemia poderia ter sido muito melhor com a estrutura que temos do SUS capilarizado em todo o território nacional. Mas, infelizmente, a nossa resposta não foi a melhor possível em função de escolhas do Ministério da Saúde”, criticou.

Ela enfatizou que a pandemia traz uma janela de oportunidades muito grande para um fortalecimento maior do SUS por ser a primeira vez que o sistema tem um reconhecimento como instituição, “porque as pessoas estão sendo vacinadas em seus postos e nas unidades básicas de saúde.  A classe média está conhecendo onde ela tem que ir”. Ela disse esperar que os gestores não percam essa oportunidade. “O Brasil tem um sistema público universal que é um dos mais bem sucedidos, embora com seus gargalos e problemas, mas é sem dúvida a melhor opção”.

Depois de apontar os principais gargalos do SUS no período pré-covid, ela passou a abordar como a pandemia pode transformar o sistema de saúde brasileiro. “Temos que pensar algumas questões. A primeira delas é a questão da Telemedicina e da Telesaúde. Na fase de pré-pandemia a Telemedicina só estava permitida para a medicina a distância, para casos de emergência. O uso era bastante restrito”.

Com a pandemia, veio a promulgação da Lei 13.989, de 2020, na qual o Ministério da Saúde reconhece o uso da Telemedicina durante a pandemia. “Tenho a convicção de que não teremos como retroceder quanto ao uso da Telemedicina, embora a Lei esteja para o período pandêmico. Acho que a nossa expectativa é que haja uma inclusão da Telemedicina e da Telesaúde e isso vai causar uma revolução enorme do ponto de vista da organização do cuidado e de outras questão’, destacou.

Atenção primária

Outro impacto positivo que ela enfatiza com essa revolução é o fortalecimento da atenção primária como ordenador do cuidado. “Acho que isso vai acontecer nos dois setores. No sistema privado as pessoas têm uma aceitação muito maior da telemedicina. Havia uma certa dificuldade por parte dos pacientes e hoje, por exemplo, o médico de porta de entrada, com um teleatendimento, faz um encaminhamento para a filtragem. É fundamental para redução de custos. Já há plano de saúde sendo ofertado nessa lógica. Isso vai trazer mais eficiência para o sistema e também maior bem estar para pacientes”, salientou.

Com a covid-19, o uso de aplicativos tornou-se cada vez mais disseminado. Ela citou como exemplo o Conecta-SUS, um aplicativo que permite o acompanhamento. “Essa digitalização pode ser finalmente o instrumento que precisávamos para organização de fila de espera, o que para o sistema muda completamente a perspectiva e expectativa que as pessoas têm a partir do momento em que sei quanto tempo vou esperar, quantos estão na minha frente, isso muda sua percepção do tempo e do sistema”.

Mônica Viegas defendeu a necessidade de se repensar no Parque Industrial de Saúde, com geração de tecnologia. “O Brasil tem um parque produtivo importante mas que deixou de ser gerador de tecnologia. É fortemente dependente de insumos. Como a China tem uma produção de baixíssimo custo, a gente acabou, assim como outros países, deixando a indústria nacional de lado, porque a importação era mais barata. Não podemos ter essa dependência de insumos, principalmente na área de produção de medicamentos. Acho que isso será pauta da campanha presidencial porque é fundamental que se repense uma política industrial voltada para uma indústria nacional que dê conta de geração de insumos. A produção de vacinas continua sendo um desafio muito grande, bem como a distribuição e vacinação. Temos que trabalhar com isso de forma muito intensa.

Qualidade do debate

O moderador do debate foi o secretário do Planejamento e Orçamento da Seplag, Flávio Ataliba, que iniciou manifestando agradecimento aos profissionais que dão suporte para a realização do webinar. Após nominar cada um, citou o secretário titular da pasta, Mauro Benevides Filho, “que tem, desde o início, apoiado fortemente essa iniciativa, instrumento de construção de ideias e de prospecção de novas iniciativas que possam ser incorporadas à gestão pública do estado do Ceará”. Disse ainda Flávio Ataliba que a orientação do secretário é sempre no sentido de buscar qualidade no debate. “A nossa regra de ouro é trazer os melhores para contribuir na melhoria das políticas públicas do Ceará”, acrescentou.

Um dos pontos da abordagem da palestrante Mônica Viegas que mereceu comentário do moderador Flávio Ataliba foi a questão da dependência da indústria brasileira de saúde em relação a outros países, referentes a itens de insumos e equipamentos. O moderador lembrou que o ex-governador Ciro Gomes chegou a abordar o assunto antes da pandemia, quando condenou o fato de o sistema de saúde brasileiro, que é uma questão estratégica, ter seus insumos dependendo de outros países.