Gestores analisam a distribuição de vacinas no Brasil

3 de agosto de 2021 - 17:00 # # # #

TEXTO: Luiz Pedro Bezerra Neto - Ascom Seplag

O processo de distribuição das vacinas para imunização da população contra a Covid-19 realizado pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde, recebeu críticas do secretário executivo da Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag), Flávio Ataliba, e da médica Magda Almeida, secretaria executiva de Vigilância e Regulação da Secretaria da Saúde.

Os dois foram palestrantes no webinar da última sexta-feira, dia 30, que teve como tema “A situação epidemiológica atual do estado do Ceará e o processo de retomada das atividades econômicas”. Como explicou o moderador Maurício Benegas, na abertura do debate virtual, o webinar teve o objetivo de discutir a pandemia sob duas óticas “que costumam ser colocadas como distintas, mas que na verdade estão totalmente interligadas, no caso a perspectiva da saúde e a perspectiva da economia”.

Magda Almeida fez uma comparação, informando que o Ceará recebeu do Ministério da Saúde 71% do total de vacinas acordado pelo Ministério para a população enquanto o estado de São Paulo teve direito a mais de 90%. O assunto já foi tratado inclusive com o Ministério Público Federal. “O Ceará é o último do Nordeste em relação a distribuição de vacinas pelo Ministério da Saúde”, criticou.

Ela destacou o esforço do governador Camilo Santana, juntamente com o secretário da Saúde, Dr. Cabeto, no sentido de adquirir vacinas para complementar o programa de imunização, “mas, infelizmente, os tramites parecem bem burocráticos e, até agora não conseguimos concretizar essa compra desde o ano passado”.

O secretário Flávio Ataliba considerou ser “um absurdo” esses números apresentados acerca da distribuição das vacinas. “Se historicamente temos um problema de desigualdade de renda entre regiões e desigualdade na alocação de recursos, temos agora também um problema de desigualdade na alocação de vacinas, com São Paulo recebendo mais de 90% e o Ceará pouco mais de 70%”.

Queda na positividade

Em sua apresentação, a médica falou inicialmente sobre a situação da Covid no Ceará, mostrando a evolução da doença desde o surgimento da pandemia, as medidas adotadas e o cenário atual, no qual já se constata uma queda na positividade dos testes, “o que significa uma circulação viral mais baixa, com uma positividade aproximada de 18%”. Quanto ao número de óbitos, ela informou que há um decaimento a partir do começo de junho que vem se mantendo.

Conforme os dados da Sesa, o número de vacinados já é muito maior em relação ao de contaminados por Covid em todas as faixas. “Isso é só para mostrar que quanto mais a gente aumenta a cobertura vacinal, a quantidade de casos vai reduzindo. A vacina, qualquer que seja, tem uma efetividade e uma importância tanto na redução da mortalidade quanto na redução de velocidade da contaminação”, acentuou.

Ela informou ainda que, das vacinadas recebidas, 93% delas já estão nos braços dos cearenses. “Mas precisamos continuar com os cuidados para mantermos esse parâmetro de incidência muito baixo”. Ao concluir, a médica reportou-se aos casos da variante Delta, identificados em passageiros desembarcados no aeroporto. “Não queremos enfrentar uma terceira onda, mas estamos preparados”.

Caráter democrático

O secretário Flávio Ataliba lembrou que a atividade econômica no Ceará vinha crescendo de 2010 a 2014 acima do Brasil e, a partir de 2017, voltou a bater o índice nacional. Mas caiu em 2020 com a pandemia. “O choque acontece principalmente no setor de serviços e na indústria”. Ele lembrou que toda a toda estratégia do Governo do Ceará quando veio a pandemia foi exatamente salvar vidas. “Mesmo sabendo das consequências econômicas, mas o foco era proteger ao máximo a vida das pessoas”.

O Secretário salientou o caráter democrático do governador Camilo Santana ao instituir grupos de trabalho com a participação de representantes do Governo e de diversos setores da sociedade para o debate e o compartilhamento das decisões estratégicas utilizadas para enfrentar a pandemia, inclusive na elaboração de planos para retomada da economia. “Tínhamos a preocupação não só de utilizar a ciência do ponto de vista sanitário, mas também utilizar a ciência nas decisões técnicas na área de economia, buscando sempre a racionalidade”.

Revelou que o Governo do Ceará já gastou quase 1,6 bilhão de reais no enfrentamento à Covid, e quase metade desse investimento vem de recursos do Tesouro. “Se não tivéssemos até então uma situação fiscal responsável, como o Ceará vem apresentando nos últimos anos, principalmente nos 12 anos em que o secretário Mauro Filho esteve à frente da Sefaz, e agora com a secretária Fernanda Pacobahyba, o estado não teria as condições fiscais e financeiras para ter os recursos de enfrentamento da Covid”.

Segundo ele, apesar de São Paulo receber o maior número de vacinas do país, o Ceará gastou em 2020, em termos per capita, 4,6% a mais por indivíduo, numa comparação com o estado mais rico da Federação.

Na última etapa da apresentação, Flávio Ataliba disse que o Banco Central já mostra que o Ceará está em processo de aceleração do crescimento superior ao Nordeste e ao Brasil. “Talvez fruto dos investimentos púbicos realizados em 2020 e 2021, o que fortalece a retomada da atividade muito mais rápida”.

Elencou como desafios a baixa informalidade, o reaquecimento do setor de turismo, a necessidade de aumentar a produtividade em vários segmentos da economia, bem como de se conectar mais ainda ao ambiente de negócios internacional. Outro desafio é reforçar e superar a pobreza digital num estado onde temos o Cinturão Digital, uma iniciativa bem sucedida do Governo Cid Gomes”.

Citou os diferenciais competitivos que fazem com que o Ceará possa avançar de forma mais rápida, com os diversos hubs que estão se instalando. “Todos esses hubs vão mudar o nosso perfil econômico. Somos favorecidos pela posição geográfica que coloca o estado mais próximo da Europa, dos EUA e da África. A tendência é cada vez mais crescer”, acrescentou. Flávio Ataliba destacou ainda que o Ceará, com a inteligência governamental e a gestão fiscal, pode dar mais um salto de qualidade e voltar a trajetória de crescimento observada antes da pandemia.